11 de setembro de 2011

As florzinhas de São Francisco Capítulo 6.


Como São Francisco abençoou o santo Frei Bernardo e o deixou como seu vigário quando veio a passar desta vida. 

Frei Bernardo era de tanta santidade que São Francisco tinha muita reverência para com ele e muitas vezes o louvava. Um dia em que São Francisco estava devotamente em oração, Deus lhe revelou que Frei Bernardo, por divina permissão, deveria suportar muitas, diversas e pungentes batalhas por parte dos demônios. Por isso, tendo grande compaixão pelo dito Frei Bernardo, a quem amava como se fosse seu filho, ficou rezando muitos dias com lágrimas, rogando a Deus por ele e recomendando-o a Jesus Cristo, que ele devia vencer o demônio. E orando assim São Francisco devotamente, um dia Deus lhe respondeu: “Francisco, não temas, porque todas as tentações pelas quais Frei Bernardo deve ser combatido, foram-lhe permitidas por Deus para exercício da virtude e coroa do mérito; e no fim ele vai vencer todos os inimigos, porque ele é um dos comensais do céu”. São Francisco teve uma enorme alegria com essa resposta e agradeceu a Deus. E desde aquela hora sempre teve o maior amor e reverência por ele. 

E bem que o demonstrou para ele, não só durante a sua vida, mas especialmente na morte. Pois, quando São Francisco chegou à morte, à maneira daquele santo patriarca Jacó, estando ao seu redor os devotos filhos, condoendo-se e chorando por causa da partida de tão amável pai, perguntou: “Onde está o meu primogênito? Vem cá, filho para que a minha alma te abençoe, antes que eu morra”. Então Frei Bernardo disse em segredo a Frei Elias (que era o Vigário da Ordem): “Pai, vai à mão direita do santo, para que te abençoe”. E pondo-se Frei Elias do lado da mão direita, São Francisco, que tinha perdido a vista pelas demasiadas lágrimas, pôs a mão direita sobre a cabeça de Frei Elias e disse: “Esta não é a cabeça do primogênito Frei Bernardo”. Então Frei Bernardo aproximou-se dele do lado da mão esquerda, e então São Francisco cruzou os braços em forma de cruz e pôs a mão direita sobre a cabeça de Frei Bernardo, e a esquerda sobre a cabeça do dito Frei Elias e disse: “Frei Bernardo, que te abençoe o Pai do nosso Senhor Jesus Cristo com toda bênção espiritual e celestial em Cristo, e como tu és o primogênito escolhido nesta Ordem santa para dar exemplo evangélico, para seguir Cristo na evangélica pobreza: como não só tu deste tudo que era teu e distribuíste inteira e livremente aos pobres pelo amor de Cristo, mas ainda ofereceste a ti mesmo a Deus nesta Ordem em sacrifício de suavidade. Que, então, tu sejas abençoado pelo nosso Senhor Jesus Cristo e por mim, seu servo pobrezinho, com bênçãos eternas, andando ou parando, vigiando ou dormindo, e vivendo ou morrendo; e quem te abençoar seja repleto de bênçãos, e se alguém te amaldiçoar não ficará sem punição. Que sejas o principal de teus irmãos e que à tua ordem todos os frades obedeçam; tens licença de receber nesta Ordem quem quiseres, que nenhum frade seja teu senhor, e que te seja lícito ir ou ficar onde te aprouver”. 
E depois da morte de São Francisco, os frades amavam e reverenciavam a Frei Bernardo como um pai venerável. E quando ele chegou à morte, vieram a ele muitos frades de diversas partes do mundo; entre os quais veio aquele hierárquico e divino Frei Egídio que, vendo Frei Bernardo, disse com grande alegria: “Sursum corda, Frei Bernardo, sursum corda”. E Frei Bernardo santo disse a um frade em segredo que preparasse para Frei Egídio um lugar apto para a contemplação, e assim foi feito. 
Estando Frei Bernardo na última hora da morte, fez com que o endireitassem, e falou aos frades que estavam na sua frente, dizendo: “Caríssimos irmãos, eu não vou dizer-vos muitas palavras, mas vós deveis considerar que o estado da Religião que eu tive, vós tendes, e isso que eu tenho agora, vós ainda tereis. E encontro isto na minha alma, que por mil mundos iguais a este eu não quereria ter servido a outro senhor senão a nosso Senhor Jesus Cristo. E de toda ofensa que eu fiz, me acuso e entrego minha culpa ao meu Salvador Jesus Cristo e a vós. Peço-vos, meus irmãos caríssimos, que vos ameis juntos”. E depois dessas palavras e de outros bons ensinamentos, repôs-se na cama, ficou com o rosto esplêndido e mais do que alegre, com admiração de todos os frades; e naquela alegria a sua alma santíssima, coroada de glória, passou da vida presente à vida feliz dos anjos. 
Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém. 


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