27 de setembro de 2011

As florzinhas de São Francisco Capítulo 37

Como Jesus Cristo bendito, a pedido de São Francisco, fez com que se convertesse e se fizesse frade um rico e gentil cavaleiro, o qual tinha feito grande honra e ofertas a São Francisco. 

São Francisco, servo de Cristo, indo uma vez já tarde à casa de um gentil homem grande e poderoso, foi gentilmente recebido e hospedado, ele e seu companheiro, como anjos de Deus, com grande cortesia e devoção. Por isso São Francisco teve um grande amor por ele, considerando que, ao entrar na casa, ele o havia abraçado e beijado amigavelmente, e depois lhe tinha lavado, enxugado e beijado humildemente os pés, e tinha acendido um grande fogo e preparado a mesa com muitas comidas boas e, enquanto ele comia, ele o servia continuamente, com cara alegre. 
Ora, depois que São Francisco e o companheiro tinham comido, disse o gentil homem: “Eis, meu pai, eu vos entrego eu mesmo e as minhas coisas. Quando tiverdes necessidade de túnica ou capa, ou alguma outra coisa, comprai e eu pagarei. E vede que estou preparado para vos prover em todas as vossas necessidades, pois pela graça de Deus eu posso, pois tenho todos os bens temporais, e por isso, por amor de Deus que mos deu, eu de boa vontade faço o bem aos seus pobres”, 
Ao ver tanta cortesia e amabilidade dele, e as amplas ofertas, São Francisco teve tanto amor por ele que, depois, quando partiu, andava dizendo com o seu companheiro: “Na verdade este gentil homem seria bom para a nossa religião e companhia, pois é tão agradecido e reconhecido para com Deus e tão amável e cortês para com o próximo e os pobres. Sabe, irmão querido, que a cortesia é uma das propriedades de Deus, que dá o seu sol e a sua chuva aos justos e aos injustos por cortesia. E a cortesia é irmã da caridade, que extingue o ódio e conserva o amor. E porque eu conheci neste bom homem tanta virtude divina, de boa vontade eu o quisera como companheiro. E por isso quero que voltemos um dia a ele, se por acaso Deus lhe tocasse o coração para querer acompanhar-nos no serviço de Deus. E neste meio tempo nós rezaremos para que Deus lhe ponha no coração esse desejo e lhe dê a graça de colocá-lo em prática”. Coisa admirável! Daí a poucos dias, depois que São Francisco fizera a oração, Deus colocou este desejo no coração do gentil homem. E São Francisco disse ao companheiro: “Meu irmão, vamos ao irmão cortês, pois eu tenho em Deus esperança segura de que ele, com a cortesia das coisas temporais, vai dar a si mesmo e será nosso companheiro”. E foram. 
Chegando perto da casa dele, São Francisco disse ao companheiro: “Espera-me um pouco, porque eu quero primeiro rezar a Deus para que torne próspero o nosso caminho e apraza a Cristo conceder a nós pobrezinhos e fracos, pela virtude da sua santíssima paixão, a nobre presa, que nós pensamos em tirar do mundo,”. E, dito isso, pôs-se em oração em lugar onde podia ser visto pelo dito homem cortês. Daí, como aprouve a Deus, estando ele a olhar para cá e para lá, viu São Francisco em oração muito devotamente diante de Cristo, que lhe tinha aparecido com grande clareza na dita oração e estava diante dele. 
Estando assim, via São Francisco ser levantado corporalmente do chão por um bom espaço de tempo. Por essa razão, ele foi tão tocado por Deus e inspirado para deixar o mundo, que saiu na hora do seu palácio e correu para São Francisco. Chegando a ele, que estava em oração, ajoelhou-se aos seus pés e, com grande insistência e devoção pediu que quisesse recebe-lo e para fazer penitência com ele. 
Então São Francisco, vendo que a sua oração tinha sido ouvida por Deus e que o que ele desejava o gentil homem pedia com grande insistência, levantou-se imediatamente em fervor e em alegria de espírito, abraçou e beijou o homem, agradecendo a Deus com muita devoção porque tal cavaleiro tinha sido acrescentado à sua companhia. E o gentil homem dizia a São Francisco: “Que mandas que eu faça, meu pai? Eis que eu estou pronto para, ao teu comando, dar aos pobres o que eu possuo e seguir a Cristo contigo, descarregado de todas as coisas temporais”. 
E assim fez, segundo o conselho de São Francisco, pois distribuiu o que era dele aos pobres e entrou na Ordem, onde viveu em grande penitência e santidade de vida, com um comportamento honesto. 
Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém. 

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