18 de setembro de 2011

As florzinhas de São Francisco Capítulo 20

De uma visão muito bonita que foi vista por um frade jovem, que tinha tanta abominação pela túnica, que estava disposto a deixar o hábito e sair da Ordem. 

Um jovem muito nobre e delicado veio para a Ordem de São Francisco. Depois de alguns dias, por instigação do demônio, começou a ter tanta abominação pelo hábito que usava, que lhe parecia usar um saco muito vil. Tinha horror das mangas e abominava o capuz; o comprimento e a aspereza pareciam-lhe uma carga insuportável. Como também cresceu o desprazer pela religião, ele finalmente resolveu deixar o hábito e voltar para o mundo. 

Ele já se havia acostumado, de acordo com o que lhe havia ensinado seu mestre, que em qualquer hora que passava diante do altar do convento, onde se conservava o corpo de Cristo, devia ajoelhar-se com grande reverência, tirar o capuz e inclinar-se com os braços em cruz. Aconteceu que, na noite em que devia partir e sair da Ordem, ele passou diante do altar do convento e, ao passar, segundo o costume ajoelhou-se e fez a reverência. De repente foi arrebatado em espírito e uma maravilhosa visão foi-lhe mostrada por Deus. Pois viu diante de si uma multidão quase infinita de santos, andando dois a dois como numa procissão, vestidos de belíssimas e preciosas vestes de tecido, e seu rosto e mãos resplandeciam como o sol, e caminhavam todos com cânticos e sons dos anjos. Entre aqueles santos, havia dois mais nobremente vestidos e adornados do que todos os outros, e estavam cercados por tanta claridade que constituiam um enorme assombro para quem os via. E quase no fim da fila, viu um adornado de tanta glória que parecia um cavaleiro novo, mais honrado do que os outros. Vendo o jovem a referida visão, ficou maravilhado e não sabia o que queria dizer aquela visão, nem tinha coragem de perguntar, e estava estupefato pela doçura. Em todo caso, quando passou toda a procissão, ele também criou coragem e correu atrás dos últimos, perguntando-lhes com grande temor: “Ó caríssimos, eu vos peço que vos apraza dizer-me quem são aqueles tão maravilhosos que estão nesta procissão tão venerável. Eles responderam: “Saiba, filho, que nós todos somos frades menores, que chegamos agora da glória do paraíso”. E ele perguntou assim: “Quem são aqueles dois que resplandecem mais que os outros?”. Eles responderam: “Aqueles são São Francisco e Santo Antônio, e aquele último que viste tão honrado é um santo frade que morreu recentemente; o qual, como combateu valentemente contra as tentações e perseverou até o fim, nós o estamos levando em triunfo para a glória do paraíso. E estas vestes de tecidos tão bonitos que usamos, foram dadas por Deus em troca das ásperas túnicas nós usávamos pacientemente na religião. E a gloriosa claridade que vês em nós foi-nos dada por Deus pela humildade e paciência e pela santa pobreza e obediência e castidade, que nós guardamos até o fim. Por isso, filho, não te seja duro usar o saco da religião, tão frutuoso, porque se com o saco de São Francisco, por amor de Cristo, tu desprezares o mundo e mortificares a carne, e combateres valentemente, terás junto a nós uma roupa semelhante e a claridade da glória”. 

Ditas essas palavras, o jovem voltou a si e, confortado pela visão, afastou toda tentação. Reconheceu a sua culpa diante do guardião e dos frades; e daí em diante desejou a aspereza da penitência e das roupas, e acabou sua vida na Ordem em grande santidade. 

Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. 

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