2 de outubro de 2011

As florzinhas de São Francisco Capítulo 47

Daquele santo frade a quem a Mãe de Cristo apareceu, quando estava doente, e lhe trouxe três potinhos de electuário. 

No sobredito lugar de Soffiano, houve antigamente um frade menor de tão grande santidade e graça, que tudo parecia divino e muitas vezes era arrebatado em Deus. Estando uma vez esse frade todo absorto em Deus e elevado, pois tinha notavelmente a graça da contemplação, vinham a ele pássaros de diversos tipos e pousavam domesticamente sobre suas costas, sobre a cabeça e sobre os braços e mãos, e cantavam maravilhosamente. Ele era muito solitário e raras vezes falava, mas quando era interrogado sobre alguma coisa, respondia tão graciosa e sabiamente que parecia mais um anjo do que um homem, e era de grandíssima oração e contemplação, e os frades tinham muita reverência por ele. 
Quando esse frade cumpriu o curso de sua vida virtuosa e, segundo a disposição divina, ficou doente à morte, tanto que não podia tomar coisa alguma, e por isso não queria tomar nenhum remédio carnal, pois toda a sua confiança estava no médico celestial Jesus Cristo bendito e na sua bendita Mãe. Ele mereceu, pela divina clemência, ser misericordiosamente visitado e medicado por ela. 
Estando ele uma vez na cama, preparando-se para a morte com todo o coração e com toda a devoção, apareceu-lhe a gloriosa Virgem Maria Mãe de Cristo, com uma enorme multidão de anjos e de santas virgens, com maravilhoso esplendor, e se aproximou de sua cama. Então, olhando para ela, ele teve um enorme conforto e alegria, quanto à alma e quanto ao corpo, e começou a pedir-lhe humildemente que ela suplicasse ao seu dileto Filho que por seus méritos o tirasse da prisão da mísera carne. E perseverando nesse pedido com muitas lágrimas, a Virgem Maria lhe respondeu chamando-o pelo nome: “Não duvides, filho, pois ele atendeu ao teu pedido e eu vim para te confortar um pouco, antes que tu partas desta vida”. 
Estavam ao lado da Virgem Maria três santas virgens, que carregavam nas mãos três potinhos de electuário, de desmesurado perfume e suavidade. Então a Virgem gloriosa pegou e abriu um dos potinhos, e toda a casa ficou cheia de aroma. E pegando um pouco daquele electuário com uma colherinha, deu-a ao doente que, assim que o provou, sentiu tanto conforto e tanta doçura que sua alma parecia que não podia mais ficar no corpo. Por isso, ele começou a dizer: “Basta, ó santíssima Mãe virgem bendita, ó médica abençoada e salvadora da geração humana; basta, que eu não posso agüentar tanta suavidade”. Mas a piedosa e benigna Mãe continuou servindo muitas vezes daquele electuário ao doente fazendo-o tomar, e esvaziou todo o potinho. Depois, esvaziado o primeiro potinho, a Virgem bem-aventurada pegou o segundo e pôs dentro a colherinha para lhe dar. Ele se lamentou docemente, dizendo: “Ó beatíssima Mãe de Deus, se a minha alma está toda derretida pelo perfume e a suavidade do primeiro potinho, como vou agüentar o segundo? Eu te peço, bendita sobre todos os santos e sobre todos os anjos, que me queiras dar mais. A gloriosa mulher respondeu: “Prova, filho, mais um pouco deste segundo potinho”. E dando-lhe um pouco, disse: “Agora, filho, já tens tanto que te pode bastar. Conforta-te, filho, que logo virei te buscar e te levarei para o reino de meu Filho, que sempre desejaste e procuraste”. 
Dito isso, despediu-se dele e foi embora, e ele ficou tão consolado e confortado pela doçura do remédio que sobreviveu por muitos dias saciado e forte sem nenhum alimento corporal. Depois de uns tantos dias, falando alegremente com os frades, passou desta mísera vida com grande alegria e júbilo. 
Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém. 

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