4 de outubro de 2011

As florzinhas de São Francisco Capítulo 52

Da visão de Frei João do Alverne, na qual conheceu toda a ordem da santa Trindade. 

O sobredito Frei João do Alverne, porque já tinha afogado perfeitamente todo amor e tentação mundana e temporal, e tinha posto em Deus todo o seu amor e toda a sua esperança, dava-lhe a divina bondade maravilhosas consolações e revelações, especialmente nas solenidades de Cristo. Daí, aproximando-se uma vez a solenidade do Nascimento de Cristo, em que de certo ele esperava consolação de Deus pela doce humanidade de Jesus, o Espírito Santo colocou em seu ânimo tão grande e excessivo amor e fervor da caridade de Cristo, pela qual ele se havia humilhado para assumir nossa humanidade, que na verdade parecia-lhe que a alma lhe tivesse sido tirada do corpo e estivesse queimando como uma fornalha. 
Não podendo sofrer esse ardor, angustiava-se e se derretia todo, gritando em alta voz, pois que pelo ímpeto do Espírito Santo e pelo grande fervor do amor, não podia conter-se em gritar. E na hora daquele fervor desmesurado, vinha-lhe também uma esperança tão certa e forte de sua salvação que, por nada deste mundo acreditava que, se morresse nessa ocasião, deveria passar pelo purgatório. E esse amor permaneceu nele bem seis meses, ainda que o excessivo ardor não fosse contínuo, mas vinha em certas horas do dia. 
Nesse tempo recebeu maravilhosas visitas e consolações de Deus. E muitas vezes foi arrebatado, como viu o frade que escreveu estas coisas pela primeira vez. Entre elas, uma vez foi tão elevado e arrebatado em Deus, que viu no Criador todas as coisas criadas, celestiais e terrenas, e todas as suas perfeições, graus e ordens distintas. E então ficou sabendo claramente como toda coisa criada se apresentava ao seu Criador, e como Deus está acima, dentro, fora e ao lado de todas as coisas criadas. Também ficou conhecendo um Deus em três pessoas e três pessoas em um Deus, e a infinita caridade que fez o Filho de Deus encarnar-se por obediência ao Pai. E finalmente ficou sabendo naquela visão como não havia nenhum outro caminho pelo qual a alma pudesse ir para Deus e ter a vida eterna, a não ser por Cristo bendito, que é caminho, verdade e vida da alma. 
Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém. 

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