O vice-presidente egípcio, Omar Suleiman, fala a representantes de partidos políticos no gabinete do primeiro-ministro, no Cairo, em 6 de fevereiro
Islâmicos e grupos oposicionistas disseram no domingo que discussões sem precedentes com o vice-presidente do Egito podem lançar as sementes de reformas políticas, mas não atenderam à reivindicação chave dos manifestantes egípcios: o afastamento do presidente Hosni Mubarak.
O governo e as poderosas forças armadas tentaram fazer o país voltar ao trabalho no domingo, o primeiro dia em que os bancos seriam reabertos após uma semana de fechamento decorrente da turbulência nas ruas, que, segundo as Nações Unidas, pode ter deixado 300 mortos.
Falando à TV NBC, dos Estados Unidos, o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, que emergiu como porta-voz da oposição diversificada, que inclui o movimento islâmico banido Irmandade Muçulmana, disse: "O processo (de conversações) é opaco."
"No momento atual, ninguém sabe quem está falando com quem. Tudo é controlado pelos militares, e isso é parte do problema", disse ElBaradei. "O presidente é militar, o vice-presidente é militar, o primeiro-ministro é militar."
Enquanto as conversações aconteciam, veículos blindados de transporte de tropas montavam guarda em cruzamentos do Cairo, onde soldados haviam montado barreiras de sacos de areia e ônibus deixavam funcionários diante dos grandes bancos estatais.
Manifestantes na praça Tahrir, no centro da cidade, celebrando um "Dia dos Mártires" em homenagem aos mortos nos protestos, disseram que iriam intensificar sua batalha, que já dura 12 dias, para derrubar o presidente, que já declarou que continuará em seu cargo até as eleições de setembro.
Com alguns egípcios ansiosos por um retorno à normalidade, o governo alertou sobre os danos à estabilidade econômica e à economia que vão decorrer do prolongamento dos protestos, que abalaram o Oriente Médio e abriram um novo capítulo na história moderna do Egito.
Comandante pede normalidade
O comandante do exército, que para muitos detém a chave do futuro do Egito, visitou a praça Tahrir (da Libertação) para tentar convencer os manifestantes, que se queixam da pobreza, repressão e corrupção, a deixar o local, normalmente movimentado.
"Queremos que as pessoas voltem ao trabalho e recebam seus salários, que a vida volte ao normal", disse o comandante do exército Hassan al-Roweny.
Os Estados Unidos, aliado do Egito que fornece 1,3 bilhão de dólares por ano de ajuda ao exército, destacou a necessidade de mudanças graduais nas discussões políticas entre o governo e os grupos oposicionistas, para garantir uma entrega ordeira do poder.
"Não creio que possamos resolver os problemas do mundo apertando um interruptor e promovendo uma eleição. O Egito é um caso clássico em pauta", disse o primeiro-ministro britânico David Cameron, ecoando um tom de cautela no Ocidente em relação a quaisquer mudanças repentinas.
Washington e seus aliados vêm se esforçando para acompanhar o desenrolar dos fatos no país mais populoso do mundo árabe, que foi também o primeiro país árabe a firmar um acordo de paz com Israel, é o guardião do canal de Suez e uma força contra o islã militante.
Com sinais de retomada da vida econômica e de concessões do governo em direção ao movimento reformista, o gabinete quer que o levante se acalme, reduzindo-se a conversações políticas que ponham fim aos choques entre manifestantes e partidários de Mubarak.
Também estão sendo vistos sinais de concessões da parte do movimento oposicionista, alguns de cujos líderes recuaram de sua recusa em dialogar com o governo enquanto Mubarak, 82 anos, e a velha guarda não partirem.
Diálogo com a Irmandade Muçulmana
Temendo uma perda de ímpeto da revolta popular, entretanto, muitos reformistas que usaram a Internet para mobilizar apoio em massa estão determinados a forçar a saída imediata de Mubarak, ex-comandante da força aérea que assumiu o poder quando Anwar Sadat foi assassinado.
Os EUA apoiam as conversações entre o vice-presidente Omar Suleiman, que foi durante anos o chefe dos serviços de inteligência, e grupos oposicionistas, mas deixou claro que é preciso dar tempo para o diálogo.
O governo disse em comunicado que as partes concordaram em traçar um mapa do caminho das discussões, indicando que Mubarak permanecerá no poder para comandar a transição.
O governo também disse que tomará medidas para libertar ativistas presos, garantir a liberdade de imprensa e revogar as leis de emergência que vigoram no país, "de acordo com as condições de segurança". Foi formado um comitê para estudar questões constitucionais.
Imagens mostraram Suleiman, tendo um retrato de Mubarak na parede atrás dele, presidindo as conversações, que a oposição afirmou que não satisfizeram sua exigência de uma revisão completa do sistema político do país.
Abdel Monem Aboul Fotouh, membro sênior da Irmandade Muçulmana, disse que o comunicado do governo representa "boas intenções, mas não inclui mudanças sólidas."
É testemunho do terreno conquistado pelos manifestantes o fato de o governo ter se disposto a dialogar com a Irmandade, algo que teria sido impensável antes do início dos protestos, em 25 de janeiro. Até essa data, membros do grupo eram presos regularmente.
A Irmandade, que ocupou plano secundário nos primeiros dias das manifestações mas vem elevando seu perfil desde então, procurou dirimir os receios de Israel de que uma teocracia em estilo iraniano surja no Egito.
Indagado sobre as conversações, Mohamed Adel, do grupo 6 de Abril de jovens, que tem estado ao cerne dos protestos, disse: "Estão evitando atender às reivindicações do povo".
Antes das conversações, a liderança do governista Partido Nacional Democrático, incluindo o filho do presidente, Gamal, renunciou, em iniciativa que, segundo a Irmandade Muçulmana, visou "sufocar a revolução".
Ativistas da oposição rejeitam qualquer solução conciliatória pela qual Mubarak entregaria o poder a Suleiman mas cumpriria seu mandato até o final, essencialmente dependendo do velho sistema autoritário para abrir o caminho para uma democracia civil plena e evitando humilhar o presidente.
O futuro de Mubarak
Rachid Mohamed Rachid, que foi demitido por Mubarak junto com o resto do gabinete, em reação aos protestos, disse: "Creio que a presença de Mubarak na próxima fase de transição, nos próximos meses, é crítica".
Milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir, a despeito do mau tempo, participando de orações do meio-dia em homenagem aos "mártires" mortos em confrontos nos últimos dias.
Mas muitos egípcios, mesmo alguns dos que participarem dos protestos nacionais para pôr fim aos 30 anos de governo de Mubarak, dizem estar desesperados pelo retorno à normalidade.
As lojas têm estado fechadas, dificultando à população obter estoques de produtos básicos. Alguns preços subiram, o crescimento econômico, que antes estava em 6%, está previsto para diminuir.
O governo e as poderosas forças armadas tentaram fazer o país voltar ao trabalho no domingo, o primeiro dia em que os bancos seriam reabertos após uma semana de fechamento decorrente da turbulência nas ruas, que, segundo as Nações Unidas, pode ter deixado 300 mortos.
Falando à TV NBC, dos Estados Unidos, o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei, que emergiu como porta-voz da oposição diversificada, que inclui o movimento islâmico banido Irmandade Muçulmana, disse: "O processo (de conversações) é opaco."
"No momento atual, ninguém sabe quem está falando com quem. Tudo é controlado pelos militares, e isso é parte do problema", disse ElBaradei. "O presidente é militar, o vice-presidente é militar, o primeiro-ministro é militar."
Enquanto as conversações aconteciam, veículos blindados de transporte de tropas montavam guarda em cruzamentos do Cairo, onde soldados haviam montado barreiras de sacos de areia e ônibus deixavam funcionários diante dos grandes bancos estatais.
Manifestantes na praça Tahrir, no centro da cidade, celebrando um "Dia dos Mártires" em homenagem aos mortos nos protestos, disseram que iriam intensificar sua batalha, que já dura 12 dias, para derrubar o presidente, que já declarou que continuará em seu cargo até as eleições de setembro.
Com alguns egípcios ansiosos por um retorno à normalidade, o governo alertou sobre os danos à estabilidade econômica e à economia que vão decorrer do prolongamento dos protestos, que abalaram o Oriente Médio e abriram um novo capítulo na história moderna do Egito.
Comandante pede normalidade
O comandante do exército, que para muitos detém a chave do futuro do Egito, visitou a praça Tahrir (da Libertação) para tentar convencer os manifestantes, que se queixam da pobreza, repressão e corrupção, a deixar o local, normalmente movimentado.
"Queremos que as pessoas voltem ao trabalho e recebam seus salários, que a vida volte ao normal", disse o comandante do exército Hassan al-Roweny.
Os Estados Unidos, aliado do Egito que fornece 1,3 bilhão de dólares por ano de ajuda ao exército, destacou a necessidade de mudanças graduais nas discussões políticas entre o governo e os grupos oposicionistas, para garantir uma entrega ordeira do poder.
"Não creio que possamos resolver os problemas do mundo apertando um interruptor e promovendo uma eleição. O Egito é um caso clássico em pauta", disse o primeiro-ministro britânico David Cameron, ecoando um tom de cautela no Ocidente em relação a quaisquer mudanças repentinas.
Washington e seus aliados vêm se esforçando para acompanhar o desenrolar dos fatos no país mais populoso do mundo árabe, que foi também o primeiro país árabe a firmar um acordo de paz com Israel, é o guardião do canal de Suez e uma força contra o islã militante.
Com sinais de retomada da vida econômica e de concessões do governo em direção ao movimento reformista, o gabinete quer que o levante se acalme, reduzindo-se a conversações políticas que ponham fim aos choques entre manifestantes e partidários de Mubarak.
Também estão sendo vistos sinais de concessões da parte do movimento oposicionista, alguns de cujos líderes recuaram de sua recusa em dialogar com o governo enquanto Mubarak, 82 anos, e a velha guarda não partirem.
Diálogo com a Irmandade Muçulmana
Temendo uma perda de ímpeto da revolta popular, entretanto, muitos reformistas que usaram a Internet para mobilizar apoio em massa estão determinados a forçar a saída imediata de Mubarak, ex-comandante da força aérea que assumiu o poder quando Anwar Sadat foi assassinado.
Os EUA apoiam as conversações entre o vice-presidente Omar Suleiman, que foi durante anos o chefe dos serviços de inteligência, e grupos oposicionistas, mas deixou claro que é preciso dar tempo para o diálogo.
O governo disse em comunicado que as partes concordaram em traçar um mapa do caminho das discussões, indicando que Mubarak permanecerá no poder para comandar a transição.
O governo também disse que tomará medidas para libertar ativistas presos, garantir a liberdade de imprensa e revogar as leis de emergência que vigoram no país, "de acordo com as condições de segurança". Foi formado um comitê para estudar questões constitucionais.
Imagens mostraram Suleiman, tendo um retrato de Mubarak na parede atrás dele, presidindo as conversações, que a oposição afirmou que não satisfizeram sua exigência de uma revisão completa do sistema político do país.
Abdel Monem Aboul Fotouh, membro sênior da Irmandade Muçulmana, disse que o comunicado do governo representa "boas intenções, mas não inclui mudanças sólidas."
É testemunho do terreno conquistado pelos manifestantes o fato de o governo ter se disposto a dialogar com a Irmandade, algo que teria sido impensável antes do início dos protestos, em 25 de janeiro. Até essa data, membros do grupo eram presos regularmente.
A Irmandade, que ocupou plano secundário nos primeiros dias das manifestações mas vem elevando seu perfil desde então, procurou dirimir os receios de Israel de que uma teocracia em estilo iraniano surja no Egito.
Indagado sobre as conversações, Mohamed Adel, do grupo 6 de Abril de jovens, que tem estado ao cerne dos protestos, disse: "Estão evitando atender às reivindicações do povo".
Antes das conversações, a liderança do governista Partido Nacional Democrático, incluindo o filho do presidente, Gamal, renunciou, em iniciativa que, segundo a Irmandade Muçulmana, visou "sufocar a revolução".
Ativistas da oposição rejeitam qualquer solução conciliatória pela qual Mubarak entregaria o poder a Suleiman mas cumpriria seu mandato até o final, essencialmente dependendo do velho sistema autoritário para abrir o caminho para uma democracia civil plena e evitando humilhar o presidente.
O futuro de Mubarak
Rachid Mohamed Rachid, que foi demitido por Mubarak junto com o resto do gabinete, em reação aos protestos, disse: "Creio que a presença de Mubarak na próxima fase de transição, nos próximos meses, é crítica".
Milhares de pessoas se reuniram na praça Tahrir, a despeito do mau tempo, participando de orações do meio-dia em homenagem aos "mártires" mortos em confrontos nos últimos dias.
Mas muitos egípcios, mesmo alguns dos que participarem dos protestos nacionais para pôr fim aos 30 anos de governo de Mubarak, dizem estar desesperados pelo retorno à normalidade.
As lojas têm estado fechadas, dificultando à população obter estoques de produtos básicos. Alguns preços subiram, o crescimento econômico, que antes estava em 6%, está previsto para diminuir.
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