23 de setembro de 2011

As florzinhas de São Francisco Capítulo 30

Da bela pregação que fizeram em Assis São Francisco e Frei Rufino, quando eles pregaram nus. 

O dito Frei Rufino estava, pela contínua contemplação, tão absorto em Deus que, tornando-se insensível e mudo, falava muito raramente. E também não tinha a graça, nem a coragem nem a facilidade de falar para pregar. Apesar disso, São Francisco mandou-lhe, uma vez, que fosse a Assis e pregasse ao povo o que Deus lhe inspirasse. Frei Rufino respondeu: “Pai reverendo, eu te peço que me perdoes e não me mandes; pois, como tu sabes, eu não tenho a graça de pregar e sou simples e idiota”. Então São Francisco disse: “Como não obedeceste prontamente, eu te mando pela santa obediência que vás nu como nasceste, só com as bragas, e entres em uma igreja assim despido e pregues ao povo”. Recebendo essa ordem, o dito Frei Rufino se despiu, foi a Assis e entrou numa igreja. Feita uma reverência ao altar, subiu ao púlpito e começou a pregar. Homens e meninos começaram a rir por causa disso, e diziam: “Eis que esses aí fazem tanta penitência que ficaram estultos e fora de si”. 
Nesse meio tempo, São Francisco, repensando na pronta obediência de Frei Rufino, que era dos homens mais nobres de Assis, e na ordem dura que lhe tinha dado, começou a repreender-se dizendo: “Por que tens tamanha presunção, filho de Pedro de Bernardone, vil homenzinho, para mandar a Frei Rufino, que é dos homens mais nobres de Assis, para ir pregar nu ao povo, como um louco? Por Deus, que tu provarás em ti mesmo o que mandas os outros fazerem”. 
E, de repente, em fervor de espírito, ficou nu ele também de maneira semelhante e foi a Assis, levando consigo Frei Leão, para levar o seu hábito e o de Frei Rufino. Quando o viram do mesmo jeito, os assisienses escarneceram, achando que ele e Frei Rufino estivessem loucos por demasiada penitência. 
São Francisco entrou na igreja em que Frei Rufino pregava estas palavras: “Caríssimos, fugi do mundo e deixai o pecado; devolvei o que é dos outros, se quiserdes escapar do inferno; observai os mandamentos de Deus, amando a Deus e ao próximo, se quereis ir para o céu; fazei penitência se quiserdes possuir o reino dos céus”. 
E então São Francisco subiu despido ao púlpito e começou a pregar tão maravilhosamente sobre o desprezo do mundo, sobre a santa penitência, sobre a pobreza voluntária, sobre o desejo do reino celeste e sobre a nudez e o opróbrio da paixão de nosso Senhor Jesus Cristo, que todos os que estavam na pregação, homens e mulheres em grande multidão, começaram a chorar fortemente com admirável devoção e compunção do coração. E não somente ali, mas por toda Assis houve naquele dia tanto pranto pela paixão de Cristo, que nunca tinha havido semelhante. 
E assim edificado e consolado o povo pelo ato de São Francisco e de Frei Rufino, São Francisco revestiu Frei Rufino e ele mesmo e, assim revestidos, voltaram para o lugar da Porciúncula, louvando e glorificando a Deus que lhes tinha dado a graça de vencerem a si mesmos pelo desprezo de si e edificar as ovelhas de Cristo com bom exemplo, e demonstrar quanto se deve desaprovar o mundo. E naquele dia cresceu tanto a devoção do povo para com eles, que feliz julgava-se quem podia tocar a barra de seu hábito. 
Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém. 

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