29 de outubro de 2011

Espiritualidade para uma vida virtuosa - 4


Não precisamos desesperar se não conseguirmos chegar de imediato à virtuosidade, isto é, a um conjunto ideal de virtudes. Basta viver uma virtude para vivermos todas. É preciso estar numa virtude, e, através dela ouvir e abraçar todas as outras. O dom é natural; a virtude é conquistada. A virtude é sempre o dom de uma conquista, de um lançar-se, de uma disciplina determinada. As virtudes nos fortalecem. Enfraquecemos quando não temos o vigor de buscar o melhor. Não podemos nivelar a nossa vida por baixo. Não podemos viver na mediocridade. Betinho, o grande profeta da cidadania, o nosso eterno Hebert de Souza, dizia pouco antes da sua morte: “Se aprendi algo com os cristãos, é que a vida cristã não é para medíocres”. 

O tema de hoje é a Virtuosidade. Mas o que é a Virtuosidade? É aprender a ser; é criar uma personalidade moral; é ter bases sólidas para formular um juízo de valor. A virtuosidade ajuda a construir uma identidade honesta e leal que leva a uma conduta fundamentada em valores. A virtuosidade dá força ao indivíduo e brilho a sua singularidade.A virtuosidade encarnada nas pessoas transborda e energiza o social. Individualidades fortes criam grupos humanos fortes; indivíduos criam uma moral social. A virtuosidade nos leva a perguntar: Qual o critério fundamental da nossa vida? Qual é o fundamento do nosso existir? Não estamos prontos ainda. Existe ainda uma verdade, uma virtude não conquistada e não realizada. A virtuosidade é a fome e a sede de ser. É a tecitura onde vamos moldando a vida e o vigor de existir que nos leva a ser mais humanos. É dinamismo de uma conquista diária; um impulso de amor que faz viver numa determinada direção.

A legenda medieval franciscana, conhecida como o Anônimo Perusino, no Capítulo 6,27, diz: “E assim se esforçavam por contrapor aos vícios cada uma das virtudes”. Cada virtude combate vigorosamente os vícios. É a força moral diante das forças contrárias. Como diz São Francisco de Assis, nas suas Admoestações 27, cujo título é “A virtude que afugenta o vício”:

“Onde há caridade e sabedoria, aí não há temor nem ignorância. Onde há paciência e humildade, aí não há nem ira nem perturbação. Onde há pobreza com alegria, aí não há ganância nem avareza. Onde há quietude e meditação, aí não há preocupação nem divagação. Onde há o temor do Senhor para guardar seus átrios, aí o inimigo não tem lugar para entrar. Onde há misericórdia e discernimento, aí não há nem superfluidade nem rigidez”.

Voltemos mais uma vez à pergunta: O que é a Virtuosidade? É caminho em busca da identidade humana; ter um ideal humanista na construção da qualidade. É a maneira de dominar a quantidade em favor da qualidade. É criar uma personalidade espiritual e social; é construir uma estética de sensibilidade, leveza, delicadeza, gentileza nas atitudes e relações. O que faz alguém feliz? É o seu modo de proceder em consonância com as virtudes abraçadas. Ser feliz e realizado é uma necessidade moral. É a liberdade de agir a partir do princípio do melhor. Quem age a partir do princípio do melhor é eticamente bom.

É preciso semear virtudes na horta da virtuosidade para colher os melhores frutos do humano bom; e através da detalhada semente, buscar a semente da inteireza. Temos que trabalhar com a semente inteira que somos; assim ela pode crescer frondosa, buscar as alturas, revelar-se na aridez do mundo do antivalor.

Uma vez que abraçamos a virtuosidade como caminho para buscar a riqueza interior, não há nada comparável no mundo exterior. “Se você negar a semente, como aplaudir a árvore?” A pessoa humana é uma semente que pode ser uma grande árvore. Ela tem que desabrochar divinamente. Pelos caminhos da virtuosidade, cada ser humano pode ser sagrado. Não podemos sufocar a semente; temos que dar a ela a oportuna chance e cuidado para o crescimento. Ser semente é já ser uma força! Como diz um provérbio árabe: “Ser semente já é o gosto de ser árvore!”

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