27 de abril de 2011

Sexta-Feira Santa: Adoração da Cruz, porque?





“Que a nossa inteligência, iluminada pelo Espírito da Verdade, acolha, com o coração puro e liberto, a glória da cruz que se irradia pelo céu e a terra” (S. Leão Magno).
O mesmo santo nos diz que a santa cruz “é fonte de todas as bênçãos e origem de todas as graças. Por ela, os que crêem recebem na sua fraqueza a força; na humilhação, a glória; na morte, a vida”. Cantemos, nós também, a glória da Santa Cruz.

A liturgia da sexta-feira santa ao referir-se ao culto à Cruz se expressa dizendo que se trata de uma “solene adoração da santa Cruz”, deixando inclusive a possibilidade de dobrar o joelho diante dela. Penso que essas palavras calaram no coração de mais de um cristão deixando-o pensativo, com maior razão se refletimos naquilo que realizamos: aproximamo-nos da imagem do Cristo crucificado e o beijamos; adoramos a Cristo, a sua Cruz. Na verdade, Cristo e a sua Cruz são identificados nesta liturgia solene de hoje.
Duas perguntas: porque adoramos a Cruz? Porque a beijamos? No Brasil, devido a influência de teorias provindas de ambientes evangélicos não é raro encontrar também entre católicos certa desconfiança e aversão pelo culto às imagens. Hoje eu gostaria de conversar com você sobre esse tema sem uma finalidade defensiva, apologética, mas simplesmente observando o que a liturgia da Igreja nos diz no dia de hoje. Tendo em conta que qualquer conseqüência apologética será colateral, quero dialogar especialmente com aqueles católicos que aceitam com toda paz a sua fé celebrada na liturgia de hoje.
Nós adoramos a Santa Cruz porque ela foi o madeiro no qual o próprio Deus feito homem retirou a maldição do pecado que pesava sobre nós. A cruz era sinal de maldição, suplicio dos culpados e grandes marginais da sociedade. Cristo quis transformar esse sinal de maldição em sinal de benção. Mas, contudo, para entender melhor por que adoramos a Santa Cruz é preciso que compreendamos uma realidade: as coisas contêm um significado. Por exemplo: beijar uma pessoa tem distintos significados quando realizado em diversas circunstâncias. Uma criança que dá um beijo na sua mãe quer significar todo o carinho e agradecimento que sente por ela; duas pessoas que se dão os dois beijinhos sociais quando se conhecem não querem significar mais que o prazer que sentem em conhecer-se e celebrar dessa maneira ritual essa nova relação de amizade que começa; dois namorados que se beijam querem expressar o amor que sentem mutuamente. Há beijos que significam pura sensualidade, outros são exposições das escórias e dos desvios humanos. Enfim, um beijo pode significar muito! No caso do beijo à Santa Cruz, trata-se de um beijo que se pode interpretar em relação a outro beijo, aquele que o sacerdote dá ao altar todos os dias ao começar e ao terminar a Santa Missa: um beijo cheio de amor, de respeito, de admiração. O Altar representa a Cristo como a Cruz também o representa.

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